Djunta mon pa kaza di nos tudu!

Relembrando Eduardo Pontes
na data do seu nascimento


Djunta mon! É isso… Construir a casa comum com a ajuda de todos. Ousar a inquietação e a utopia, concretizando as ideias. Na imagem, Eduardo Pontes carrega um tijolo durante a construção da atual sede do Moinho da Juventude.  Assim era o nosso Nhu Eduardo.

Conheci o Eduardo quando tinha 16 anos, era eu militante do Movimento de Esquerda Socialista (no setor juvenil – Núcleos Estudantis de Intervenção Política) e ele referenciado por todos como sendo sábio. Acho que a primeira conversa foi nas escadas da sede do MES na avenida D. Carlos I… Ficará sempre a imagem do afeto, profundidade e sentido de humor, com tempo disponível para os mais novos, sempre com uma história a propósito de algo que dizíamos. Voltei a encontrar o Eduardo Pontes na Associação Cultural Moinho da Juventude. Juntamente com a sua companheira Lieve, tinham erguido, compondo de raiz, junto com outros moradores, o Moinho, referente para todos aqueles que fazem intervenção sociocultural em bairros desfavorecidos. Eduardo e Lieve são habitantes do bairro, com uma mesma força da palavra e da ideia concretizada. Juntamente com Isabel Marques e outros companheiros ergueram este espaço de defesa de uma textura social e humana ímpar no nosso país: O Moinho da Juventude no bairro da Cova da Moura. Desde o primeiro momento, a Biblioteca foi mote para uma transformação social profunda, apostando nos vizinhos como protagonistas da sua própria história e do lugar que habitam. Paradigmático deste afã é confirmação de um elevado número de jovens, oriundos do bairro, que se dedicam a este trabalho cultural e social dando força às traves mestras que sustentam esta ideia. Com o Eduardo, voltou a crescer dentro de mim o espírito Crioulo e um entendimento maior desta cultura que tem acompanhado o meu percurso, também passei a ter redobrada atenção à diáspora do povo cabo-verdiano, à realidade da imigração. Habituei-me a encontrar o Eduardo na nossa biblioteca António Ramos Rosa Havia sempre um novo livro para ler, uma opinião para conferir, uma peça de artesanato desconhecida e um vizinho com o qual seria importante falar, com tempo, o que quer mesmo dizer – sem pressa. Entendi o significado de Morabeza, cada vez que subia as escadas da sua casa para dois dedinhos de conversa (com direito a groguinho e uma risadinha no final de cada frase). Hoje sou mais um sócio do Moinho que colabora, quando a vida o permite (transporto comigo a mágoa de não poder estar sempre presente). Aprendi a ler as dinâmicas do bairro através do olhar do outro, antes de opinar e propor. O Eduardo partiu na mesma data em que assassinaram Amílcar Cabral (20 de janeiro 1973 - Guiné Conacri). Sobre Amílcar diz o povo: Bu more sedu! O Eduardo não podia ficar mais por aqui (o corpo trai-nos)… para nós, será sempre cedo demais. A única maneira de ele permanecer vivo na fundu da petu é continuar a lutar pela requalificação do bairro, preservando a textura social e cultural, tendo tempo disponível para o outro, o nosso vizinho e fazer crescer a ideia, sempre.
Às vezes um passeio pelo bairro ficava registado no meu Diário Gráfico:
Vizinhos jogando Uril no café de Nhu Vitorino

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