Crianças ciganas e química escolar

 
Sob o olhar atento de Sophia...
O primeiro contacto com o grupo poderá ser definidor de atitudes futuras - a responsabilidade é grande...
Fotografia  por cortesia de Judith Pereira
Convocado pela Conceição Rolo, a grande impulsionadora da A.L.E.M (Associação literatura literacia e mediação), participei no dia 11 de janeiro na Escola Básica Sophia de Mello Breyner na Outurela (Carnaxide) numa sessão convívio com pais e alunos de origem cigana.
 O grupo de mediadores da A.L.E.M. pediu o meu apoio para ajudar quebrar um ciclo de não comunicação desaustinada entre um pequeno grupo de alunos ciganos e a escola. Foram entrando desconfiados, a conta-gotas, na sala – primeiro os rapazes com o seu grande líder (em tamanho e quase a completar a idade em que deverá sair da escola), depois as raparigas (adolescentíssimas) num pequeno cardume ruidoso. Aliás, devo dizer sobre os pequenos líderes na escola, sexo masculino, que a abordagem ao seu comportamento deverá ser feita através da química: o grande líder é sempre o átomo de oxigénio insuflando energia a dois tontos hidrogénios que orbitam à sua volta. Resultado disto tudo, a molécula que dá sempre água em contexto de sala de aula. A conversa começou pelos sapatos, de vestuário entendem eles… Depois acabámos a conversar sobre a história do povo cigano, com eles a “tirarem-me as medidas”. Uma mãe cigana interveio, pegando pela palavra calon, esclarecendo o rapaz sobre aquilo que eu estava a falar. A partir desse momento pais e filhos começaram a comentar e fizeram a escuta necessária à narração oral. Lá contei a primeira história. Uma rapariga agitada propôs, interrompendo logo no início do conto, que se mudasse o nome da heroína da história para Orlanda. E Orlanda ficou... Depois mostrei o “Zoom” ao grande grupo – pais e filhos participaram alegremente na mediação do livro. Mais tarde, num pequeno grupo, comecei a contar uma história com o “Popville” na mão: “Era uma vez uma pequena aldeia chamada Outurela, que foi crescendo …” A história que tinha preparado para encerramento já não pode ser contada em condições – ostensivamente, o “átomo de oxigénio” quis mostrar o seu poder, boicotando o contador. Interrompi a narração e disse, olhando-o nos olhos: “Respeita-me!” Lá conseguiria terminar o conto, e avançar mais umas linhas na minha leitura de quem me escutava – crianças, jovens, mães e pais, ciganos, e professores não ciganos.
Parte do grupo que participou no encontro promovido pela ALEM na EB Sophia de Mello Breyner (Outurela)
Há escolas determinadas em mudar o rumo da educação...

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