O nosso Km2


No dia 10 de novembro participei, junto com outros artistas (Margarida Mestre, Maria Gil e Sofia Cabrita), numa dinâmica destinada a jovens estudantes da Secundária Marquesa de Alorna, cujo objetivo era levar a refletir, de forma criativa, sobre o “Km2” que “habitam” em torno da escola. “o nosso Km2” é um projeto promovido pelo Programa de Desenvolvimento Humano da Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa. Sobre este projeto local pode ler-se: Através de um conhecimento mais aprofundado da freguesia de Nossa Senhora de Fátima, onde a Fundação Gulbenkian se encontra sedeada, este projeto tem como objetivo contribuir para a construção de uma cultura de comunidade participativa e atuante. Pretende-se estimular o desenvolvimento de redes de proximidade e vizinhança para encontrar respostas para os problemas sociais que afetam esta população. Visa também fomentar a criação de redes de voluntariado que respondam a algumas das problemáticas identificadas, envolvendo todos os agentes presentes na freguesia na descoberta e aplicação de soluções.
Ora, 90 minutos para pensar no território, com os seus lugares, afetos e ligações que se estabelecem com coordenadas particulares é pouco, mesmo assim as sessões correram bem. Num ecrã, a imagem do planeta (Google Earth) que ao longo da sessão se foi aproximando do território da escola até que se pudessem identificar claramente as ruas do nosso no Km2. Depois de uma série de pequenos exercícios de movimento e jogos, propostos pela Sofia, que geraram risadas e descontraíram o corpo e as ideias - estávamos prontos para o próximo desafio: criar uma cartografia pessoal e outra coletiva, encontrando diferentes lugares: Um lugar para estar sozinho, um lugar proibido ou perigoso, um lugar para namorar, um lugar de memórias e um lugar de encontro. 
Foi muito interessante o debate que se gerou na procura desses lugares inscritos em cartões coloridos que foram dispostos no chão da sala, tendo como referente central a escola e, claro, os pontos cardeais. Através destas conversas, fomo-nos apercebendo das dinâmicas dos jovens e dos seus bairros de origem (se é certo que alguns moram na proximidade, outros vêm de longe). De entre as escolhas dos jovens destaco algumas que me parecem interessantes. O jardim da Fundação é referido pelos participantes como um lugar para estar sozinho. Os locais para namorar são variados, dispersos e pessoais. Já o ponto de encontro é sempre perto da escola. Como resposta à pergunta – onde começa o território da escola? – Alguns responderam que começa logo de manhã à saída de casa. Lembro-me, como numa sequência quase cinematográfica, de uma rapariga que escolheu um banquinho, mesmo na base da ponte metálica que atravessa a linha de comboio, para estar sozinha; outro rapaz escolheu essa mesma ponte como ponto de encontro… Sobretudo, gostei de ver os jovens sentados descontraidamente na alcatifa das belas salas da Fundação, falando dos seus lugares e descobrindo dados novos sobre a geografia de vida dos seus colegas de turma. Nem sempre tenho hipótese de falar dos meus colegas artistas e do prazer que me dá trabalhar em conjunto – hoje o Óscar vai para a Sofia Cabrita!

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