Desenhar com a luz num espelho só meu

Desenhando com a luz das lanternas em frente ao espelho: brincadeira simples com meninos e meninas autistas.
 Numa das nossas oficinas dedicadas ao corpo (“Espelho meu” – programa Descobrir/Fundação Calouste Gulbenkian) eu e a Margarida Vieira deparámo-nos com dificuldades inesperadas com um grupo de crianças do espectro do autismo que tinham vindo para a nossa oficina – Estava a ser muito difícil focar a atenção e o grupo comportava-se de uma forma fragmentada. Para além de existir um “ruído” permanente por parte de uma assistente operacional responsável (1) pela sala, que insistia em agarrar as crianças mais difíceis, lançando a voz sobre os responsáveis da oficina no CAM, numa atitude de afirmação territorial sobre as crianças - não estávamos a conseguir aquela nossa magia habitual de comunicação. Para conseguir criar um grupo, embora solto, recorremos ao paraquedas (ver aqui, apesar de ser uma publicidade…) e “neutralizámos” a senhora desviando a criança dos seus cuidados, que logo aproveitou para percorrer a sala livremente, parando de vez em quando (por pouco tempo) para participar feliz na proposta. Recomendámos aos participantes adultos que respeitassem a voz da Margarida para não haver sobreposição de instruções, garantindo uma imagem clara de liderança (“loba alfa”) e emissão de uma comunicação sem ruído. Cedo se entendeu que poderíamos encontrar um caminho para a focagem e subsequente trabalho em torno do desenho, usando recursos simples e de fácil perceção. É então que entra aqui a atividade “desenhar com a luz”, em frente ao espelho, pedindo às crianças que, na penumbra da sala, rodassem uma pequena lanterna (cabe na palma da mão) criando formas geométricas. Mostrei ostensivamente que iria fotografar o resultado. É conhecido o interesse de crianças autistas pela tecnologia, a existência de botões intimamente ligados à causa/efeito. Cada vez que faziam um desenho com a lanterna em frente ao espelho, mostrava o resultado no visor da máquina fotográfica. Alguns meninos e meninas entenderam bem a ideia, outros permaneceram no seu mundo apesar dos esforços da margarida - ainda não foi desta… Aqui fica o relato da prática. Talvez vocês com “os vossos meninos/as” possam usar este recuso, partilhando connosco os resultados.
lanterninhas da "loja do chinês" - Cabem na mão e são baratas. 
Atenção: é preciso ter algum cuidado com a intensidade da luz característica da tecnologia LED. 

(     (1)   Tenho vindo a conhecer assistentes operacionais fantásticas que intuitivamente acabam por fazer “manobras” descritas em metodologias de trabalho com autismo de uma forma completamente natural, mas permanece, no geral, a imagem da assistente operacional acima descrita, a par de um outro tipo (igualmente comum nas nossas escolas) a da avozinha, cheia de pena que cobre os coitadinhos de beijos. Efetivamente, é cada vez mais urgente disponibilizar momentos de formação ativa junto destas pessoas nucleares na textura da escola; afinal são elas que acolhem os meninos logo de manhã e garantem todo o ciclo da rotina prática no estabelecimento escolar. 

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